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25/01/2013 Lucia Masini Um mundo invisível na era da comunicação sem limites
Mario Vargas Llosa; Eliane Brum; Paolo Giordano; Catherine Dunne e outros
Um garoto promove um massacre numa escola nos EUA. Quase que imediatamente toda a população mundial acompanha mais esse drama americano e se divide entre opiniões e soluções para o problema. Quase 15 milhões de pessoas, no mundo, com maior concentração na Bolívia, estão infectadas com doença de Chagas, e muita gente nem sabe o que é isso.
Casos de detenção temporária de turistas, nos setores de imigração de aeroportos de diversos países, são noticiados e comentados constantemente na mídia mundial. Nem uma linha é divulgada sobre a condição humilhante dos imigrantes ilegais presos na Grécia por meses a fio, sem perspectiva de solução do impasse.
Espalha-se a boa notícia de que a AIDS mudou seu status de doença letal para crônica, controlada por uma combinação de remédios cada vez mais potentes, mas não se divulga nada sobre a falta de pesquisas e desenvolvimento de novas ferramentas de combate à doença adaptadas às necessidades das populações mais carentes do planeta: na África, ainda são milhões de pessoas condenadas à morte por terem contraído o vírus HIV.
O mundo, na era da comunicação ilimitada, parece desconhecer ou fechar os olhos para realidades cruéis como essas. Foi por esse motivo que a organização Médicos Sem Fronteiras, a MSF, convidou nove escritores de diferentes nacionalidades para conhecerem seus projetos, em diferentes partes do mundo, e escreverem sobre essas experiências. O resultado disso está em Dignidade!, livro originalmente italiano, que foi editado no Brasil pela Leya, em 2012. São nove escritores consagrados, dentre eles, a nossa Eliane Brum, uma das mais premiadas jornalistas brasileiras. O objetivo do livro é o de divulgar, para um maior número de leitores, aquilo que a mídia internacional insiste em desconsiderar: o sofrimento de milhões de pessoas por questões sociais negligenciadas, muitas vezes, provenientes de interesses econômicos escusos.
Com muita sensibilidade, cada escritor revela, em relatos ou narrativas comoventes, o drama de pessoas no Congo, na Bolívia, na Índia, na Grécia, na África do Sul e em outras regiões esquecidas do mundo globalizado onde os profissionais da MSF vivem situações-limite com o intuito de trazer esperança à vida árida das populações mais carentes do planeta.
São textos que nos tiram o fôlego. As equipes da MSF trabalham incansavelmente sem discriminar raça, condição social, religião ou doença contraída. Aliás, essa parece ser sua principal meta: mostrar às diferentes populações que a doença, seja ela qual for, não pode ser metaforizada, entendida pelo doente e pelos demais como um castigo ou sina pessoal. Tem de ser conhecida, tratada e, quando possível, erradicada. E a maior batalha desses profissionais ainda tem sido contra os preconceitos que cercam as doenças e que impedem o cuidado digno e necessário a todos.
O livro é de leitura obrigatória e nos convoca a tomar algumas decisões porque nos ensina que todo sofrimento pode ser minimizado e que todos temos como contribuir. A MSF atua nos locais mais necessitados e esquecidos do planeta. Mas a escala de sofrimento é grande e bem do lado de cada um de nós há alguém ou um grupo necessitando de acolhimento, reconhecimento e ajuda.
Que tal iniciar o novo ano com atitudes mais solidárias que podem fazer a diferença?
Dignidade!
Nove escritores vivenciam situações-limite e relatam o comovente trabalho da organização Médicos Sem Fronteiras – Mario Vargas Llosa; Eliane Brum; Paolo Giordano; Catherine Dunne; Alicia Gimenez Bartlett; James Levine; Esmahan Aykol; Tishani Doshi; Wilfried N’Sondé
Editora Leya, 2012.
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