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20/05/2013 Claudia Perrotta Teatro: Coro dos Maus Alunos
Direção: Soledad Yunge e Tuna Serzedello - Cia Arthur-Arnaldo
"E um a um fomos sendo chamados”, enunciam em coro os seis alunos de uma escola qualquer, vestidos a caráter: camiseta branca, calça azul marinho, uniforme. A expressão estampada em seus rostos adolescentes é de temor, por vezes de terror. O inquérito foi instalado, e todos foram convocados a depor.
Por que chegaram ao limite? Por que teriam passado dos limites, destruindo a sala do diretor, quebrando caras e braços dos professores, em especial de matemática, pixado paredes, muros e até usado uma arma?
“Coro dos maus alunos”, encenada pela Cia Arthur-Arnaldo, tenta responder a essas perguntas, dando voz aos protagonistas, que contam com suas palavras como tudo começou: o encantamento com o novo/velho professor de filosofia, o único que realmente chamavam de professor, por ser digno do título, que buscava, em suas aulas, instigar à reflexão – queria que seus alunos sentissem na pele, experimentassem de verdade o que está nos livros, questionassem as teorias, e para isso, usava o método socrático. Dúvidas e mais dúvidas, questionamentos infindáveis da lógica vigente. Só sei que nada sei levado às últimas consequências, com direito à filmagem pelo celular e postagem imediata no youtube.
A peça faz referência a filmes clássicos de escola: professores revolucionários influenciando alunos antes passivos e que se tornam então insubmissos. Não faltam exemplos de finais trágicos, em que boas intenções, ou nem tanto, saem do controle dos mestres: Sociedade dos Poetas Mortos, A Onda... E também aqueles em que professores se mostraram firmes na tarefa de transformar alunos indisciplinados: Ao Mestre com Carinho, Escritores da Liberdade (comentado nesta seção). “Coro dos maus alunos” está no primeiro time, e deixa muito claro o quanto o tema continua atual, mesmo diante de projetos de escola que prometem revolucioná-la. Os conflitos se repetem, e o desinteresse pelos conteúdos, ainda disseminados em sua maioria de forma tradicional, parece afastar cada vez mais os jovens das salas de aula: “pesquisas europeias mostram que quase um terço dos alunos de ensino médio preferiria não ir à escola, 60% dizem que ‘contam os minutos’ que faltam para acabar a aula e 20% dos estudantes entre 12 e 16 anos não têm motivação para nenhuma matéria do currículo” (trecho do livro de Álvaro Marchesi, educador espanhol, O que será de nós, os maus alunos?, citado no encarte da peça).
No Brasil, como todos sabem, não é diferente; na verdade, a situação é ainda mais grave: com a taxa de 24,3%, a terceira maior de abandono escolar entre os 100 países com maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), ficamos atrás apenas da Bósnia Herzegovina (26,8%) e das ilhas de São Cristovam e Névis, no Caribe (26,5%). Ou seja: um a cada quatro alunos que inicia o ensino fundamental no Brasil abandona a escola antes de completar a última série (Relatório de Desenvolvimento 2012, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - Pnud).
As causas, obviamente, são várias, mas a peça busca emoldurar as enormes contradições de um sistema escolar que ainda se mantém com uma estrutura disciplinar típica do século XIX, diante de jovens cada vez menos obedientes e plugados nas mais modernas tecnologias. É nesse cenário que surge o professor - convicto na intenção de confundir antes de explicar, avesso à hipocrisia, ganha o grupo, que busca então formas de se expressar. Em tempos de medicalização, quando já há estudos (americanos, diga-se) propondo drogas específicas para “curar” adolescentes, de modo a conter justamente o que torna esse momento da vida tão rico e controverso, de fato, o professor é um alento. Mas até que ponto ele se comprometeu com seus alunos, implicou-se verdadeiramente nessa confusão, a princípio, saudável, que neles fomentou?
Contando com ótimos atores, e direção primorosa de Soledad Yunge e Tuna Serzedello, “Coro dos maus alunos” encanta pela precisão do jogo cênico, e inquieta pela temática emoldurada, na medida, no texto do dramaturgo português Tiago Rodrigues.
Pais, educadores, terapeutas, um a um, vamos sendo chamados a pensar, mas sem qualquer pretensão de encontrar respostas...
Coro dos Maus Alunos
Cia. Arthur-Arnaldo
Oficina Oswald de Andrdade/Bom Retiro
3/5 a 22/6 – sextas-feiras – 20h | sábados – 19h
Classificação: livre
40 lugares (retirar convites com meia hora de antecedência)
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