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26/11/2009 Lucia Masini Biografias de quem partiu: novidade em obituários
Obituário: à medida que envelhecemos, esta passa a ser uma das primeiras seções que lemos nos jornais...
O olhar é fugaz, mas atento. Não queremos nos deparar com uma notícia inesperada, mas somos compelidos a ver os nomes, as idades e adivinhar-lhes a vida. Não há quem não compare as idades... “puxa, esse morreu tão cedo... Terá sido acidente?”; “E esse, que vida longa! Morreu aos 101 anos! Será que eu chegarei lúcido até lá?”...
Até bem pouco tempo, a coluna de obituários, em jornais de grande circulação, era breve, quase uma lista de nomes, idades e a informação se o falecido deixava parentes próximos. Mas o leitor atento vem percebendo que a seção no jornal Folha de S. Paulo ganhou novos contornos. Segundo um dos colunistas, Estêvão Bertoni, a ideia partiu da direção, embora não saiba exatamente o que a motivou. Uma coisa é certa: “o único critério para aparecer na coluna é ter morrido. Pode ser rico ou pobre, branco ou negro, não interessa. A maioria das pessoas tem uma história de vida interessante, só falta alguém para contá-las”.
A respeito da elaboração dos textos, diz: “Eu sempre tento falar com familiares, pois acredito que a informação vinda deles é mais segura. Na maioria das vezes, entro em contato por telefone. Quando a família prefere não falar, converso com amigos próximos”.
A coluna Obituários, certamente, aumentará o seu público confesso, pois os textos ali publicados revelam-se breves biografias que cumprem um duplo papel: o de prestar uma última homenagem a quem, por vezes, não ganhou em vida tal deferência, e o de levar seus leitores a refletirem que toda forma de viver tem seus sentidos e vale a pena ser vivida e contada para outras pessoas. Falar da morte e do morto deixa de ser tabu para ser possibilidade de elaboração da perda e valorização da vida. E isso faz tanto sentido que Estêvão já recebeu um pedido inusitado de um leitor de vinte e poucos anos: quando morresse, gostaria de ter um obituário escrito por ele. Tomara estejamos todos aqui para ler mais essa história.
Leia também outros textos sobre o tema nas seções Linguagem com Pipoca e Mito ou Verdade.
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